Historicamente a mulher adoptou o tabagismo depois do
homem.
Mas a partir do século XX houve um incremento na prevalência
de mulheres fumadoras. A nova inserção da mulher na sociedade nas últimas
décadas tem trazido avanços no sentido de torná-la mais feliz com o seu papel e
conquistas, mas alguns custos são resultantes desse avanço. O uso de cigarros é
um deles, e tem sido manipulado como símbolo de emancipação social da mulher.
“As mulheres estão adoptando papéis mais dominantes na
sociedade; elas têm aumentado o poder de consumo; elas vivem mais do que os
homens. E de acordo com o que um recente relatório oficial mostrou, mulheres
parecem ser menos influenciadas por campanhas contra o tabagismo do que os
homens. Tudo isso faz das mulheres um alvo de primeira.Dessa forma, apesar das
dúvidas anteriores, podemos deixar de considerar agora um ataque mais definido
sobre esse importante segmento de mercado representado por fumadoras do sexo
feminino?” (Tobacco Report, 1982)
O trecho acima faz parte dos documentos de companhias de
tabaco depositados em litígios nos EUA, que deixam claro o foco direccionado para
a mulher como promissora consumidora de seus produtos.
A Falsa Crença dos
Cigarros “light”
A publicidade da indústria do tabaco, direccionada ao público
feminino, estimulando o uso de cigarros “light”, ou “slim”, tem como objectivo estabelecer na mulher a crença de que esse tipo de cigarro é menos prejudicial
à saúde. Isso é particularmente preocupante, na medida em que compromete a
percepção do real risco ao qual está exposta, dando a falsa impressão que está
diante de um produto que causa menos danos à saúde.
Questão de saúde
pública
Organização mundial de Saúde assinala recomendações para
assistência, promoção e protecção da saúde da mulher, enfatizando:
- Considerar sempre a mulher com necessidades diferentes nas
distintas fases de seu ciclo de vida.
- Determinar diferentes protocolos de investigação e
terapêutica, proporcionando detecção precoce de problemas específicos.
- Tratar sempre a mulher com dignidade e respeito,
preservando a sua intimidade.
- Proporcionar oferta rápida e segura no atendimento à sua
saúde e tornar os procedimentos mais resolutivos.
A atenção para a especificidade do tema mulher e tabaco é
contemplada na Convenção Quadro para Controle do Tabaco quando destaca "a
necessidade de estratégias de controle de tabaco específico para género ,
bem como para a "participação plena das mulheres em todos os níveis de
controle do tabaco [políticas e de implementação [das medidas de controle do
tabaco]”].
Para enfrentar o tabagismo feminino, um dos desafios
para a Saúde Pública no século XXI, é necessário entender o fenómeno globalmente e agir localmente, com estratégias inovadoras e mais adequadas às
novas necessidades, aqui incluídas a construção social e compartilhada de
conhecimentos e habilidades para encarar esse desafio. A magnitude do fenómeno do tabagismo ultrapassa as questões específicas do biológico e acarreta consequências para a vida social, cultural e económica.
Observa-se que os estudos científicos relacionados com o tabagismo feminino abordam a palavra género como sinónimo de sexo, numa abordagem
biológica. É somente a partir da década de 1970 que surge a elaboração do género como conceito, decorrente da necessidade de aprofundamento da
compreensão de determinadas questões relacionadas com a sexualidade, a família e a herança, entre outros. Este conceito trouxe não só visibilidade à opressão da
mulher e ao conjunto de relações sociais opressoras de sexo/género que as
mulheres vivenciavam, mas possibilitou também maior entendimento sobre a
questão.
Epidemiologia do
tabagismo
De acordo com a pesquisa Vigilância de Factores de Risco e Protecção para Doenças Crónicas por Inquérito Telefónico (VIGITEL- 2010), que
traça perfil de hábitos que influenciam a saúde do brasileiro, no conjunto da
população adulta das 27 cidades estudadas, a frequência de fumadores foi de
15,1%, sendo 17,9% no sexo masculino e 12,7% no sexo feminino.
O estudo mostrou que na mulher a frequência de fumadores tendeu a aumentar com a idade até os 54 anos (de 12,4% na faixa etária 18-24
anos para 16,4% na faixa etária 45
a 54 anos). Há, no entanto, um declínio nas faixas
etárias subsequentes, chegando a 6,5% entre aquelas com 65 ou mais anos de
idade.
O número de ex-fumadores no país é maior entre os homens
(26,0%) do que entre as mulheres(18,6%). Entre mulheres a frequência das que
declararam haver deixado de fumar aumenta intensamente com a idade: 11,2% de
ex-fumadores na faixa etária 18-24 anos e quase 30% nas faixas etárias a partir
dos 45 anos de idade.
A frequência de ex-fumadores tendeu a ser maior entre
mulheres com até oito anos de escolaridade.
O tabagismo feminino traz uma nova preocupação para a saúde
pública. Os dados epidemiológicos do tabagismo feminino sob a óptica da leitura
sociológica identificam três tendências – a pauperização, a juvenilização e a
feminização .
A tendência de crescimento do tabagismo feminino ao longo
das últimas décadas aponta para um quadro extremamente complexo, em que
problemas emergentes se articulam aos anteriores e onde questões de saúde
reprodutiva se associam às não-reprodutivas. O uso do tabaco potencia os
riscos, por exemplo, das associações entre doenças cardio-cerebro-vasculares e a
contracepção hormonal e, nas patologias tradicionais, as relacionadas à
gravidez e ao parto. As tendências epidemiológicas do tabagismo apontam para um
problema que, dentro de poucos anos, será maioritariamente feminino.
Impacto do tabagismo
na saúde da mulher
As principais causas de morte na população feminina hoje
são, em primeiro lugar, as cardiovasculares (enfarte agudo do miocárdio e
acidente vascular encefálico); em segundo, o cancro – mama, pulmão e colo
de útero; e, em terceiro, as doenças respiratórias. É possível perceber que as
três causas podem estar relacionadas com o tabagismo, sendo que o cancro responsável pela maioria das mortes femininas (mama) já foi ultrapassado em
incidência pelo de pulmão entre mulheres em diversos países desenvolvidos.
Dados sobre o impacto do tabagismo para a saúde da mulher
fumadora.
Impacto do tabagismo na saúde da mulher
1. O risco de enfarte do
miocárdio, embolia pulmonar e tromboflebite em mulheres jovens que usam
anticoncepcionais orais e fumam chega a ser 10 vezes maior que o das que não
fumam e usam este método de controle da natalidade.
2. Mulheres fumadores de dois ou
mais maços de cigarros por dia têm 20 vezes mais hipóteses de morrer de cancro do pulmão do que as que não fumam.
3. As mulheres têm risco maior de
ter cancro de pulmão com exposições menores do que os homens. Adenocarcinomas
ocorrem mais em mulheres fumadores do que em homens, e estão associados ao modo
diferenciado de fumar (inalação profunda) e os produtos voltados para a mulher.
4. Calcula-se que o tabagismo
seja responsável por 40% dos óbitos nas mulheres com menos de 65 anos e por 10%
das mortes por doença coronária nas mulheres com mais de 65 anos.
5. Mulheres fumadoras que não usam
métodos contraceptivos hormonais reduzem a taxa de fertilidade de 75% para 57%,
devido ao efeito causado pelas taxas de concentração de nicotina nos ovários.
6. As fumadores que fazem uso de
contraceptivos orais apresentam risco para doenças do sistema circulatório,
aumentando em 39% as chances de desenvolver doenças coronárias e 22 % a de
acidentes vasculares cerebrais.
7. Fumar durante a gravidez traz
sérios riscos. Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebés de baixo
peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e
episódios de hemorragia (sangramento) ocorrem mais frequentemente quando a
grávida é fumadora. Tais problemas devem-se, principalmente, aos efeitos do
monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a absorção pelo
organismo materno.
8. Entre as mulheres que convivem
com fumadores, principalmente os seus maridos, há um risco 30% maior de desenvolver
cancro de pulmão em relação àquelas cujos maridos não fumam.
9. Uma vez abandonado o cigarro,
o risco de doença cardíaca começa a decair. Após 1 ano, o risco reduz à metade,
e após 10 anos atinge o mesmo nível daqueles que nunca fumaram.
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