Os jovens do Minho começam a fumar aos 11 anos de idade, três anos mais cedo do que a média nacional (14 anos), segundo revela um estudo do Agrupamento de Centros de Saúde Cávado II – Gerês-Cabreira, que abrange Amares, Terras de Bouro, Vila Verde, Vieira do Minho e Póvoa de Lanhoso.
Estas crianças começam a fumar três anos mais cedo que a média nacional |
Por isso, os profissionais de saúde da região irão continuar a trabalhar sempre em equipa e incidindo – em face destas conclusões – junto das crianças do primeiro ciclo do ensino básico.
No estudo científico, a que o SOL teve acesso, apurou-se que a idade média de consumo do primeiro cigarro é de 11 anos e a média de idades do consumo diário de jovens fumadores é mais ou menos de 13 anos, de acordo com o mesmo estudo. Mas a percentagem de jovens fumadores vai entretanto diminuindo, do 7º ano para o 12º ano, de 94,8% menos, de 86,9% menos e de 74,8% menos, nos sucessivos escalões etários.
“A experimentação do tabaco em idade tão precoce é um fenómeno social quando ainda não têm as crianças um aparelho cognitivo e capacidade para gerirem essas situações”, como disseram a médica Ivone Alves e a enfermeira Lurdes Gonçalves, que integram um grupo de trabalho no terreno desde 2013.
Entre os seis mil alunos dos onze agrupamentos escolares dos cinco concelhos, há uma prevalência de 13,1% para consumo de tabaco entre os jovens dos 13 aos 18 anos, ainda de acordo com o levantamento realizado. O estudo revelou igualmente que 33,2% dos jovens da nossa região passaram pela fase de experimentação e desses 40% mantiveram o consumo de tabaco.
Quanto aos adultos – os profissionais da educação – a percentagem é de 18%, situação “que nos preocupa muito, porque são modelos para os alunos, quer os professores, quer ainda os funcionários como os auxiliares e os administrativos”, como nos referiram as mesmas responsáveis. Por outro lado, 30,5% dos alunos têm familiares que consomem tabaco ao ar livre, uma outra situação “preocupante”, segundo as mesmas responsáveis.
Os principais motivos indicados pelos jovens para fumarem são “por ser nervoso/para libertar preocupações e problemas” (26,8%), seguido de “dar conforto e dar prazer” (18,8%) e 26,8% não responderam.
“Tinha que se mudar esta situação. O que estamos a fazer no terreno é achatar esta curva. Isto é, era preciso atacar por várias frentes este problema do tabagismo nos mais jovens, fazendo a prevenção primária, mas que terá os seus frutos mais tarde”, afirmou ao SOL a enfermeira Lurdes Gonçalves. Por essa razão o ACEs do Gerês-Cabreira abriu também uma consulta de cessação tabágica que contribuiu já para debelar tal situação.
O projecto dirige-se directamente aos alunos do terceiro ciclo e do ensino secundário, tratando-se de mais de seis mil alunos nos onze agrupamentos dos cinco concelhos. “Há uma situação que nos preocupa, que é o facto de os jovens conviverem na companhia de fumadores, havendo assim uma grande exposição ao consumo de tabaco e em ambientes fechados, o que é ainda mais gravoso”.
O projecto multidisciplinar, que vai no seu segundo ano, preconiza uma intervenção junto dos jovens para diminuir a exposição ao consumo de tabaco.
Intervir no primeiro ciclo
“Para o futuro queremos intervir também no primeiro ciclo do ensino básico (a antiga escola primária) para reforçar uma componente que já existe, a nível curricular, mas nós queremos envolver os seus encarregados de educação e também toda a comunidade”, salientaram Ivone Alves e Lurdes Gonçalves.
“Aquilo que está provado a nível internacional é que a probabilidade de diminuirmos o consumo de tabaco com estas acções é maior nestas idades e em todo o parque escolar destes cinco concelhos”, segundo as mesmas profissionais de saúde revelaram ao SOL.
“É entre o 7º e o 8º ano de escolaridade, com idades entre 12 e 14 anos, que os alunos costumam iniciar-se no consumo de tabaco, tentando fazer uma imunização nessa fase de descoberta e de construção, sendo preciso ‘vaciná-los’, neste caso dando-lhe uma espécie de ‘segunda dose’ dessa mesma ‘vacina’ para ficarem mais imunes”, explicou a enfermeira Lurdes Gonçalves.
“A ‘terceira dose’ é entre os ensinos de grau secundário e o universitário, quando a vida aperta um bocado com algum stress e eles vão buscar uma ‘bengala’, mas quem conseguiu dizer não até essa fase dificilmente começará depois a fumar, por isso o ano lectivo passado fizemos um investimento maior no terceiro ciclo do ensino básico do que no secundário”, destacou a médica Ivone Alves.
Notícia Jornal SOL