Em Portugal, mais de 30% dos homens são fumadores, um valor que representa mais do dobro do encontrado entre as mulheres. No entanto, esta diferença está a esbater-se cada vez mais e é provável que os valores se venham a cruzar. As conclusões de um estudo que será apresentado nesta terça-feira indicam que a percentagem de raparigas e de rapazes fumadores em 20 escolas de Coimbra é praticamente a mesma, assim como o número total de cigarros consumidos por dia.
O trabalho, que será apresentado em Coimbra para assinalar o Dia do Não Fumador, foi feito pela delegação desta cidade da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) e pelo Laboratório de Bioestatística e Informática Médica (LBIM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O estudo contou com um inquérito anónimo a 3289 alunos de 20 escolas do concelho de Coimbra, com uma média de 15,4 anos.
O inquérito, a que o PÚBLICO teve acesso, indica que 79% dos alunos disseram ser não fumadores e 21% afirmaram fumar, em 10,2% dos casos regularmente. “Considerando como fumadores tanto os alunos que indicaram fumar regularmente quanto aqueles que afirmaram fumar pontualmente, observa-se que a percentagem de rapazes (10,9% do total dos inquiridos) e de raparigas (10,1% do total dos inquiridos) entre fumadores é semelhante”, salienta o estudo, que ainda assim ressalva que “relativamente aos não fumadores, verifica-se haver uma maior prevalência no género feminino (41,8%) comparativamente ao masculino (37,2%)”.
Raparigas já fumam quase tanto como os rapazes |
Os rapazes apresentam uma “maior tendência para se tornarem fumadores”, mas comparando os dados com as actuais proporções entre adultos percebe-se que o sexo é cada vez menos um factor diferenciador. Em relação à idade, os autores dizem que o número de fumadores aumenta com a idade: “Na faixa etária dos 12 aos 13 anos apenas 5,1% dos alunos fumavam. Este valor cresce gradualmente nas restantes faixas etárias, atingindo o valor de 47,4% na faixa etária que inclui os alunos com idade igual ou superior a 18 anos”.
Quanto aos cigarros fumados por dia, a média é praticamente igual entre rapazes e raparigas, “correspondendo a praticamente meio maço de tabaco por dia”. Em média os rapazes fumam 8,75cigarros e as raparigas 8,12. Outro dado a destacar diz respeito ao sítio onde começaram a fumar. É entre os mais novos que existem mais alunos a reportarem ter começado este hábito na escola. Os estudantes entre os 12 e os 13 anos, são os que mais relatam ter começado a fumar na escola, “sendo a tendência maior nas raparigas”. O valor chega aos 80%.
Numa nota, um dos autores do trabalho, o presidente da FPP em Coimbra, João Rui Almeida, alerta para a “necessidade de se apostar em campanhas de sensibilização nas escolas sobre os malefícios do tabaco” e de “sensibilizar os pais para esta realidade, dado que a maioria dos alunos fumadores (51,9%) diz que os pais fumam em casa”. As conclusões destacam, por isso, a “grande prevalência de alunos fumadores passivos” e insiste-se que, “nos casos em que há coabitação com familiares fumantes, existe um risco 1,5 vezes superior de um aluno fumar”.
Outro dos autores, o coordenador da equipa do LBIM, Francisco Caramelo, reforça que “existe um efeito cumulativo, ou seja, quem começa a fumar dificilmente deixa de o fazer, e a probabilidade de fumar aumenta cerca de 1,5 vezes por cada ano”. Isto apesar de 95,8 dos inquiridos dizerem que conhecem os efeitos secundários do tabaco. Mesmo assim, a consciência sobre os efeitos é maior nos não fumadores (97,5%) do que nos fumadores (88,5%).
Menos consultas
Os dados relativos aos jovens surgem numa altura em que tanto as consultas para deixar de fumar como as vendas de produtos antitabagismo estão em queda. Segundo os dados da consultora IMS Health, citados pela Lusa, todos os dias são consumidos por fumadores que tentam deixar de fumar 357 embalagens destes produtos. Entre Setembro de 2014 e Setembro de 2015 foram vendidos em farmácias e para-farmácias 130.390 embalagens de produtos antitabagismo, menos 33.174 do que no mesmo período do ano anterior. Em valor, os fumadores já gastaram neste ano cerca de 3,2 milhões de euros na compra destes produtos, ainda assim, menos cerca de 386 mil euros do que no ano anterior.
As consultas de cessação tabágica também têm vindo a diminuir, segundo os últimos dados disponíveis, do relatório anual da Direcção-Geral da Saúde sobre prevenção do tabagismo, apresentado em Novembro de 2014. As consultas do Serviço Nacional de Saúde para ajudar a deixar de fumar, entre 2009 e 2013, diminuíram de 25.765 para 21.577 e o número de utentes atendidos nas consultas de apoio intensivo à cessação tabágicas baixou de 7748 para 5377, enquanto o número de locais de consultas para esse fim caiu de 223 para 116. Apesar disso, em 2016, com um ano de atraso, começará finalmente a funcionar uma linha telefónica de cessação tabágica, coordenada pela Linha Saúde 24.
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